Uma voz acha o timbre de uns olhos que refletem rosas no chão. O mistério das constelações, pessoas-estrelas-coisas nas pontas dos dedos – como entoava Gonzaga filho –, o céu de amigos longe do networking.
Tem disco estrela solitária, disco galáxia de instrumentos, disco buraco negro que traga tudo da gente. E tem o disco constelação, de Juliana Amaral: cada frase, cordilheira, cada contorno, suspiro, cada tapa no ganzá, lágrima. Maioral dessa Constelação de Leão, a cantora regula cada lâmpada. Nenhuma grita ou estoura para além do desenho que se grava. Generosa, a voz de Juliana parece sustentar toda a tristeza – minha, sua, dela – sobre os ombros miúdos. Há como uma tensão de corda ré à beira da enchente.
Tentar o novo é coragem. Dar bola pro novo é caráter. Ah, tempo viciado no igual, na canetada do Olimpo cultural. Ninguém pode errar, preferem o que alguém já certificou. A velha lógica do lucro, digo, comprei o disco não quero perder o investimento. Desistem do melhor da festa: provar o gosto ou desgosto na própria percepção.
É preciso ir onde o artista está, sem essa de consumidor, melhor ser senhor do seu paladar. Eu escolhi gostar de Juliana, não apostei na Bolsa, apenas o canto, o ouro da tarde despedindo um dia comprido. Uma noite vi tudo ao vivo, palco pouco, músicos alguns, aqui nota, ali silêncio. Eu de público, meio estátua. E aquele Samba Mínimo fez chover até meus olhos de pedra.
(De Samba mínimo, extra luxo super. São Paulo: Ed. do Autor, 2012.)
Por Pedro Marques
25 ago. 2012