À espera real dos bárbaros
Eles chegam de todos os lados
Principalmente pelo céu e pelas mercadorias
que não temos
Há algum tempo estão mudados
Depois da luta encarniçada com os alemães,
entraram em Paris – veja o que é a guerra –
aos beijos com aquelas moças brancas
como nossa areia
Mas o filme por estrear é bem outro
Para as aldeias sem escolas e hospitais
enviam cinqüenta milhões em bombas
Em toda nossa pobreza semi-animal,
nós, os mesopotâmios, acreditamos numa cilada
Multidões de serpentes e escorpiões do deserto
guardam em posição
Qualquer trecho de pele menos protegido,
cada jagunço pode tomar até vinte soldados
de dia ou de noite
Primeiro gol
Ronaldo morde a bola
na esquerda da meia-lua
e entrega a redonda carinhosamente
para Rivaldo
Oliver Khan, arqueiro,
assiste a tudo prestes a participar da pintura
O chute é furioso, dolorido
Na desconfiança de matador,
Ronaldo vai conferir o trabalho do goleiro,
que abandona a cria ao leão
Khan ainda se faz gato
para não decepcionar a disciplina wagneriana
É de manhã
No Xingu e na Avenida Paulista
as lágrimas aumentarão as nuvens do anil
Entre os ruídos de rojões e os gritos fundidos a outras aflições
ecoa o pedal de uma velha máquina de costura manual
É Soledade, moça em 1958,
bordando sua quinta estrela
(Clusters, Ateliê Editorial, 2010. Online: https://www.atelie.com.br/livro/clusters/ )
Por Pedro Marques
26 ago. 2012