Que? Quem?

PedroMarques-76

Poesia à Mão (2010-). O Sol é generoso para quem quer se espalhar como informação. Versos voam da língua para o ouvido, pulam das páginas aos olhos, capturados por celulares atravessam continentes, arrancam com os ônibus, chegam em sacos de pão. A poesia jamais curtiu tantos canais. Há até recursos institucionais para ações voltadas a oferecer conteúdos, às vezes relapsas em avaliar se a leitura se deu.

Se nunca houve tanta poesia a berrar, seus gritos jamais esbarraram em tanta surdez. Surgem mais aspirantes que leitores. O jorro de poetas destoa do que é formar apreciadores. Estes deveriam ser pré-requisito para aqueles. O professor, sobretudo o herói do sistema público, joga sementes. O poeta pouco se mexe, fala o que não escuta.  Fácil reclamar da falta de leitores, como da água que acaba no domingo.

déficit de leitores de poesia vem de longe. Lembro uma tirada ainda atual de Medeiros e Albuquerque. Era 1931, década quente da poesia brasileira, página de A Gazeta, São Paulo:

“Haveria talvez um meio de dar à poesia brasileira um futuro esplêndido: uma lei, de um só artigo, resolveria o caso: ‘Art. único – A ninguém é lícito publicar, em jornais, revistas ou livros, poesias de qualquer espécie sem demonstrar que possui todos os livros de versos publicados nos doze meses anteriores’. Mais nada. Há muito que se nota um fato interessante: os que publicam livros de versos são numerosíssimos; os que os leem são raríssimos… Se fosse possível reunir as duas castas e fundar uma espécie de cooperativa(…)”.

Neste site, principalmente, ouço e comento a poesia de preferência contemporânea. Porque crítico arrisca mesmo quando assertivo sobre o agora. O ontem está mais ou menos acolchoado por notas passadas. Não a poesia que gosto ou desgosto. Apenas a que vale o tempo de refletir. A poesia à vista, a poesia à mão. Ok, sou poeta, então há versos meus, que não quero a farpa de Marcial: Seus versos não mostra, mas ataca os meus, Lélio. / Ou para de atacar ou mostra os seus.

Pedro Marques (1977-). Poeta, compositor e crítico. Professor de Literatura Brasileira da EFLCH-UNIFESP. Com Pablo Simpson e Caio Gagliardi, organizou as revistas de poesia Salamandra, Camaleoa e Lagartixa. Com Caio Gagliardi, editou o site Crítica & Companhia. Editor do site Poesia à Mão. Colaborou no volume no Palavra Cantada: Ensaios sobre Poesia, Música e Voz (2008). Canções em álbuns como SM, XLS (Juliana Amaral, 2012), Vias de Encontro (Rodrigo Duarte, 2014), Um salto em distância é melhor que um mortal (Zezé Freitas, 2015), Outro (Sá Pedro, 2019) e Eu toco mal (Martina Marana, 2019). Alguns livros: Antologia da Poesia Parnasiana Brasileira (crítica e organização, 2007), Manuel Bandeira e a Música (ensaio, 2008), Olhos nos Olhos (poesia, 2008), Clusters (poesia, 2010), Olegário Mariano – Série Essencial (crítica e organização, 2012), Cena Absurdo (poesia, 2016), Encurralada (poesia, 2020), Saques & Sacanagens (ensaio poético, 2021) e Assbook (poesia, 2022).

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