324º Poema da Semana | 05jun2023

Assim disse a monstra

Eu sou a monstra sagrada
eu sou a bicha papona
eu sou a jaguatirica
dos vales
eu sou a suçuarana
dos montes.
Eu sou o maracajá.

Sou demônio, anjo e deus
guardião de mil segredos
e do sonhado GRRRAAAALLLL.

Eu sou o terror das selvas,
eu sou o horror das trevas,
todos me amam e temem.

Por amor a Yanderu,
sirvo a Jurupari,
finjo-me de Anhangá,
Caipora e Saci.
Sou um anjo travesti.

Curinga, proteu
dez mil faces tenho.
Em todo e qualquer
lugar estou eu.

Eu sou o querubim do tabernáculo,
e o anjo da espada flamejante,
e o tigre de Blake e de Borges,
e a pantera de Dante, e o leopardo
de Eliot e Daniel,
e o dragão do Jardim das Hespérides
e a besta do Apocalipse
e a serpente do paraíso.

Sou o próprio Chupacabra.

Pantera rosa-shocking
jaguar azul-bebê
tigresa rosicler
sou cheia de gatimonhas;
mas ronrono de ternura
e me enrosco todinha
em torno do meu dono:
aquele que a todos ama
e de todos é o amo.

Não me venha com bravatas e esconjuros
e nem me torne presa, caça ou vítima
de sua estupidez civilizada.
Sou uma besta sagrada e protegida,
um animal santo e exijo
todo o respeito devido
à minha divina estirpe.

*Waldo Motta_1959-_Terra sem mal: um mistério bufante e deleitoso_2015