301º Poema da Semana | 09mai2022

Disfarce IV

Obscuro, eu me fendia nas praças da cidade, cotejando-me com a clara nuvem… E a todos apontava minha face cedida ao Ocidente…
Entre os salgueiros da praça, entre eles, não podia deixar de pensar: um negro liga-se neste instante a Shakespeare. E entre as suítes de Bach eu sentia: um negro ante uma suíte, de Bach…
Viva minha face! Gritei alta noite, quando já haviam falhado todos os raios do sol que eu esperava no Inverno. E Deus desanimara de reunir os pedaços do meu nome, pois eu era só: NEGRO. E minha mãe me escondera entre as meninas claras dos seus olhos, pois eu era só: NEGRO. E ela, naquele tempo, não sabia…

*Oswaldo de Camargo_1936-_O estranho_1984