302º Poema da Semana | 16mai2022

Razões

Não me oferecem doces,
pois de onde vim
as crianças foram criadas
com pimenta.

A poesia é o meu recanto
a minha fuga.

Mesmo assim, escrevo poemas
como quem joga pedras.

Não tenho nenhum motivo
para reler os búzios,
não quero pensar na sorte
desse 13, muito menos
nos dois artigos da lei.

Não tenho razões
para sorrir à nenhuma princesa,
por isso quando escrevo,
mesmo sobre o mel e as flores
não pretendo ser doce ou lírico.
Em cada verso, sou as marcas
dessa História.

Do mel, sei apenas,
as ferroadas das abelhas
das flores, o perfume
que acorda na memória
multidões de defuntos
do meu povo.

*Éle Semog_1952-_A cor da demanda_1997