Terra
Sequestrar você até a terra
firme
Conquistar esse país,
decidir pelo mais castanho:
seus olhos ou o fofo da terra?
Achar o que é mais chão:
o barro dos seus olhos encharcando
o fogo dos meus pés
E enquanto deduzo seu segredo,
você germina
– três cafés em cada olho
um buquê pro meu delírio
Mel
Sequestrar você até o remédio
do mel
Curar essa ferrugem,
decidir pelo mais mel:
seus olhos ou o fogo do remédio?
Achar o que é mais sol:
o ouro dos seus olhos desata
o pássaro amordaçado na gaiola
E enquanto remexo seu tacho,
você açúcar
– três abelhas em cada olho
uma ferroada na alma
Folha
Sequestrar você até a quebra
do mar
Pentear esse canavial,
decidir pelo mais verde:
seus olhos ou a tinta do mar?
Achar o que é mais vegetal:
a folha dos seus olhos se alastrando
pelo mar das três da tarde
E enquanto rastelo seu cabelo,
você anoitece
– num piscar de olhos
apaga o mar
(Olhos nos Olhos, 2008.)
Por Pedro Marques
31 jul. 2010