Bandolim
Do pulmão fumaça e canto
desenham modas
Imensas
A tosse concertada na voz que paira
Os olhos raiaram como um solo
enquanto bebia as unhas
– insistentes –
na volta da reflexão:
Esse bandolim é uma cascata!
Canta, canta bem-te-vi!
Eu era arteiro e o carinho certo depois do tapa
Quando ele domingava, a mãe dizia:
Olha a sombra!
É que eu seguia sua luz segura
Ele arrumava tudo – tudo tinha jeito!
– e às vezes solicitava o moleque:
Cadê aquele dedinho?
Vê se alcança a tampinha de pasta que caiu
no ralo
O resgate me trazia importante
Improvisos não eram temidos
Também a gente se contestava,
cada qual no seu canto desafinado
até os ombros se perdoarem
Hoje, as sombras cobrem o mesmo chão
Suas piadas são minhas
As histórias do vô Pedro são nossas
Estes versos são seus
Amanhã, o barco do peito rebocado
pelo mar de rosas, pó, videoclipes e chuva
Mas olfato ou sabor desbotados
jamais vão calar o que tocaram
Nosso violão dedilhando até
Amizade
Bom é jogar luas de unha
janela afora
pra me matar um pouco,
pra nascerem delas
novos demônios
Uma luta de tempestades vai amamentá-los
E eu, pai orgulhoso,
levarei a passeio,
ensinarei futebol
e os apresentarei a um amigo
(Camaleoa – Revista de Poesia, primavera de 2001.)
Por Pedro Marques
31 jul. 2010