Só se vive é na ponta do casco
só se sabe o que é
quem na ponta do casco, vive
Na ponta do casco o caboclo é
o cabra
O vaqueiro é o bicho
que tange,
a corda da viola
pronta, guizo de cobra na ponta
Grávida do cramulhão
Quem vive na ponta do casco
não questiona a direção
sabe que é flecha
E fecha em solidão
A menor área do impulso,
a ponta do casco é lâmina
é o lugar que separa
a navalha da ação
É o lugar de quem
vive, o agora
O pronto, o sopro
o bote, o chão
A ponta do casco
é o lugar do Zen
o bushidô do sertão
Lugar onde se está
e nunca se chega
A capacidade do riso
além do não
E o sertão vasto
é o pasto da imensidão
Sem noção ou lastro
selvagem e pronto
o coração, um pouco
um ponto, um potro
na ponta do casco
o mundo que não é bobo
na ponta do casco
bate mais forte:
é o troco que bate mais soco
no coração do homem morto
*Fábio Casemiro_1976-_Canções a lápis para um homem morto_2022