342º Poema da Semana | 03jun2024

 

Só se vive é na ponta do casco
só se sabe o que é
quem na ponta do casco, vive

Na ponta do casco o caboclo é
o cabra
O vaqueiro é o bicho
que tange,
a corda da viola
pronta, guizo de cobra na ponta
Grávida do cramulhão

Quem vive na ponta do casco
não questiona a direção
sabe que é flecha

E fecha em solidão

A menor área do impulso,
a ponta do casco é lâmina
é o lugar que separa
a navalha da ação

É o lugar de quem
vive, o agora
O pronto, o sopro
o bote, o chão

A ponta do casco
é o lugar do Zen
o bushidô do sertão
Lugar onde se está
e nunca se chega

A capacidade do riso
além do não

E o sertão vasto
é o pasto da imensidão

Sem noção ou lastro
selvagem e pronto
o coração, um pouco

um ponto, um potro
na ponta do casco
o mundo que não é bobo
na ponta do casco
bate mais forte:
é o troco que bate mais soco
no coração do homem morto

*Fábio Casemiro_1976-_Canções a lápis para um homem morto_2022