297º Poema da Semana | 11abr2022

Soneto das Navalhas

O saber, o cantar e o desejar
são atos conjugados num só traço:
e desatá-los cumpre, sem cessar,
mesmo chegada a noite e seu cansaço.

Desconjugar o imo desses verbos
só é possível com perícia extrema,
apesar de que sangrem os lábios rubros,
pois esse agir importa em dor e pena.

O externo dos eventos se descasca
apenas com navalhas perfurantes,
a penetrar em núcleo que se racha.

Dessa cisão surgem figuras novas,
que se reúnem, festa de bacantes,
clamando pelo estro, e o mais, se embota.

*Maria da Conceição Paranhos_1944-_As esporas do tempo_1996