Em Cena Com o Absurdo

 

Viver um samba absurdamente
simples e triste
de Adoniran Barbosa
e o coração aumentar o tique
e os olhos derrubarem
uma lágrima que de tão simples
só molha

*

Um tarado está à solta

Então o bom genro
que mora com a sogra,
faz questão de trocar
a fechadura da porta

A senhora, trabalhadeira,
chega da lida lá
pelas dez da noite,
hora em que o meliante,
segundo testemunhas,
costuma fazer levante

*

Se Édipo aparecesse
lá nos Estados Unidos,
pegava uma cana

*

Ela detesta a série Máquina Mortífera,
adora novela das oito,
contesta a revista Carícia
e acha o Latino muito louco

Moça de família,
inteligente e bem educada,
sem nenhuma patente anomalia

Pergunta-se à patrícia:

Você é a favor da pena de morte?
Pelo fim da violência, of course!

E a legalização do aborto?
Que absurdo! Que culpa tem a criança?

(Em cena com o absurdo, Luna Editora, 1998.)

Por Pedro Marques
31 jul. 2010