98º Poema da Semana | 04fev2014

Deu branco

1.

É sempre assim: bater o ponto de saída
e “Ufa, até que enfim” e “Hoje, só amanhã”
pensar picando a mula, o cérebro fervendo
e o ego semicheio da mão-boba a mais;
a rua até que tá bonita: o sol se põe,
a praia é uma promessa, mas um mal-estar,
o velho mal-estar de sempre, ameaça tudo,
insiste em ser imune a tudo o que tem sal;
a voz esgrouvinhada da rabeca (não,
não é hebraico, não) pendula pelo tímpano
assim como gangorra, e um soco no nariz,
mais outro soco, “Ah, dã, dã, dã – dama da noite!”;
um vento chega, tu já quase em casa, e o bosque
em frente (sempre esteve ali?) chama o teu nome,
o nome de verdade, que não tem crachá;
lá bem lá em cima a lua luz sem dar por nada,
e desse nada tu no último degrau;
um frio, enfim, a cama quente: é sempre assim.

*Érico Nogueira_1979-_Dois_2010