a sétima porta
os ônibus estavam cheios.
o peito de meu irmão chiava.
os médicos estavam perfeitos
entre os danos das doenças bravas.
os banheiros estavam infectos:
lembro que meu irmão chorava.
os bares estavam lotados,
e minha mãe, desamparada.
revivi meus pesadelos:
desconjuntei as aldrabas
com golpes de meu martelo
e abri as portas fechadas.
revisitei cemitérios,
onde não se pensa em nada,
voltei a rezar o Credo,
e minha fé foi renovada…
mas nada disso me devolve
aquelas carências de infância:
frango, só pelos domingos;
coca-cola, quando dava.
doce não, que estraga os dentes!
um litro inteiro de cachaça…
sei que meu pai trabalhava,
sei que era sua a nossa casa,
sei que a pobreza, repartida,
demora um pouco, mas passa.
ah, minha mãe, como fui triste!
só minha mãe que rezava…
*Leonardo Davine Dantas_1976-_Poesia Falida_2022