314º Poema da Semana | 27mar2023

Uma sacola da Ellus

Rua curva, estreita. A noite a levava. Ana era menina, apesar dos cabelos brancos, das rugas, das pálpebras caídas. Vazia.

De vazios comuns e raros.

Descia a ladeira, pés medonhos.

Árvores floridas intensificavam penumbras. Perfumes e ideias a pulsavam. Brisa cortava a pele. Luar, tédio, nostalgia, tempo se afogava.

Ouviu passos.

Olhou para trás, aterrorizada: o vulto se apressava.

Sufoco!

O monstro acelerou.

Ana correu.

O som dos saltos a bater no asfalto destoavam, quebravam a monotonia do horror, arremedavam o coração aos trancos.

Meia-lua e lares calados. Dez da noite, tão cedo, tão sórdido.

(…)

*Cida Sepulveda_196?-_O vestido criou Ana_2022