219º Poema da Semana | 25jun2019

Os Miseráveis

‎Vítor nasceu
no Jardim das Margaridas.
Erva daninha,
nunca teve primavera.
Cresceu sem pai,
sem mãe,
sem norte,
sem seta.
Pés no chão,
nunca teve bicicleta.
Já Hugo não nasceu, estreou.
Pele branquinha,
nunca teve inverno.
Tinha pai,
tinha mãe,
caderno
e fada madrinha.
Vítor virou ladrão,
Hugo salafrário.
Um roubava pro pão,
o outro, pra reforçar o salário.
Um usava capuz,
o outro, gravata.
Um roubava na luz,
o outro, em noite de serenata.
Um vivia de cativeiro,
o outro, de negócio.
Um não tinha amigo: parceiro.
O outro, tinha sócio.
Retrato falado,
Vítor tinha a cara na notícia,
enquanto Hugo
fazia pose pra revista.
O da pólvora
apodrece penitente,
o da caneta
enriquece impunemente.
A um, só resta virar crente,
o outro, é candidato a presidente.

*Sérgio Vaz_1964-_Colecionador de pedras_2011