19º poema da semana | 27jun2012

Cisne

À memória de Cruz e Souza
A Iaponan Soares

Vagueia, ondula, incontrolado e belo,
um cisne insone em solitário canto.
Caminha à margem com a plumagem negra,
em meio a um bando de pombas atônitas.

Encontra um outro, de alvacentas plumas,
um ser sagrado no monte Parnaso,
e enquanto o branco vai vencendo a bruma
ele naufraga, bêbado de espaço.

Em vão indaga, o olhar emparedado
na vertigem da luz que o sol encerra:
“Se em torno tudo é treva, tudo é nada,

como sonhar azul em outra esfera?”
Negro cisne sangrando em frente a um poço.
Do alto, um Deus cruel cospe em seu rosto.

*Antonio Carlos Secchin_1952-_ Todos os ventos_2002