169º Poema da Semana | 26abr2016

Outono

As agulhas da chuva fina
tecem uma lívida mantilha
sob a qual me refugio
das inclemências do espírito.
É outono. As folhas tingem
de sépia as bordas do caminho.
Ando a esmo, absorto e sombrio,
a alma entre os dentes, a vida
por um fio. Onde finda
esse inóspito labirinto,
antes povoado de ninfas
e faunos do sol a pino?
Haverá alguma saída
para o tormento metafísico?
Ou temos que voltar ao início
como há séculos faz Sísifo?

* Ivan Junqueira_1934-2014_Essa música_2014