Pain
Que o mundo é um lugar de dor,
com essas lutas, fadigas e tristezas…
Sufocar-se pelo medo,
tomar conhecimento, logo de manhã,
do pavoroso sentimento que é a angústia.
Chorar e ranger de dentes,
superlotando as farmácias.
Perder a fé no futuro,
perder a esperança e pior, e principalmente,
perder as ilusões.
Viver os dias como contas de um rosário amargo…
uma a uma amontoando dias na biografia,
sabê-la, ao fim, insípida.
Ver o tumor ou as ferragens levando embora os seus…
A arvorezinha tão regada… agora raízes pra cima.
Perder pais, irmãos, amigos, ídolos, heróis, espelhos…
Perder o Domingo, o tino, a linha, o chão, o cão na mudança.
Esquecer o sabor do primeiro gole de Skol e em vão
passar o resto da vida procurando em vão nos tonéis,
caixas, caminhões pipa…
Procurar o perdido primeiro beijo
mil bocas vida afora
na quimera esfacelada de outras bocas sempre fel.
Os adjetivos rolando para o cinza,
o opaco, o pesado.
Genuflexionado implorando paz
na madrugada suada, mil barbitúricos.
Pensar sempre coisas tristes
aprendendo do olho de Van Gogh como ver a vida…
O enfermeiro que já viu tanto sofrimento
entrando por aquela porta,
por onde a criança que nunca andou passou.
Esquecer de vez como se produz sorrisos.
Que músculos da face?
Que nervo?
Que dente?
Onde a luz?
O ar?
A ponte?
O Cristo, a Clínica?
Do vale das lágrimas, nos salve rainha.
VIDA: só duas datas.
*Paulo Gonçalves_1972-_Poemas em Maria da Fé_2014