141º Poema da Semana | 12mai2015

 

(…)
mas a arte da poesia agora pause agora espere agora pare escreva cem
vezes para ver a mesma página cemvezesmesma para ver e preze os pesos
more as remoras represe os prazos como o mesmo centena como o mesmo
reprensa como densa e centelha no cumprido da pena pouco importa agora a
arte da poesia esta geração é outra nada do lavanda-laranja imaculado
do doc williams da aresta clara mas a pasta de sarro e marijuana no
halo alumbrado de esperma e latrinas como pensar clara aresta a arte da
poesia quando testardos cara-romba masturbam longamanus a bomba cona
imensa chiando no orgasmo-ribombo e bardos barbudos no báratro de porra
pedem paz com rugidos de amoroso amianto os olhos azuis cerulam
amargando impotência contra os caras-quadradas e o paraíso não há mas
se faz de marijuana cíntia tem cabelos preto-turquesa e mãos sujas
cuidadosamente quero dizer de tinta a óleo pisando descalça o cimento
(…)

*Haroldo de Campos_1929-2003_Galáxias_1984