262º Poema da Semana | 15mar2021

Marielle, na luta e presente!

João da Silva, Maria e Luzinete
Lucas, Paulo, Antenor da Conceição
Joana Lima, costureira do Alemão
Mais um corpo encontrado! De um pivete
Treze anos, plantaram um canivete
Pra dizer que o menino era ladrão
Outros tantos, morriam na ação
E a favela lamenta cada morte
Estar vivo parece pura sorte
Pra uma grande parcela da nação

Dona Alzira, cozinheira do Acari
Mãe de Paulo, de Silvio, de Justino
Todos mortos e até o pequenino
Que corria, brincando por ali
Uma bala perdida, assim ouvi
A polícia reprime do seu jeito
Com salário atrasado, sem respeito
O bom guarda se perde nesta luta
Entre o bem e o mal, uma disputa
Nestes dias pra lá de imperfeito

O honesto destoa deste mundo
Cidadão acuado e reprimido
Na favela, ser negro é ser bandido
No discurso de ódio, me confundo
Cor de pele tem a ver com submundo?
E o senhor que despacha na autarquia?
Que o crime sustenta e financia
Num Brasil desigual e sem futuro
A matéria é falsa e tem um furo
Que prejulga a partir de uma etnia.

Morre Mara, Maria e Marielle
Morre Pedro, em dia e hora errada
Morre João, do bilhar, seu camarada
Morre Bia, devido a cor da pele
Com um tiro sucumbe Gabrielle
E humilhado, sofre o filho do João
O seu pai, faxineiro limpa o chão
Dos que oprimem e o tornam invisível
Ter acesso e espaço é impossível
Para aqueles que vieram do “fundão”

O Antônio sucumbe ajoelhado
Confessando um crime que nem sabe
A porrada em seu corpo, já não cabe
A milícia é polícia do outro lado
Vende a honra pra ganhar algum trocado
Conivente, sustenta o traficante
No asfalto um sujeito ignorante
Desdenhando de uma comunidade
Não percebe o bandido de verdade
Escondido num cargo importante

A justiça só é cega para o pobre
Para o rico tem sempre um mecanismo
Entre um e o outro há um abismo
Afinal, pode mais, quem tem o cobre
E você cidadão, quando descobre
Que o direito também serve à exclusão
Seletiva, julga os filhos da nação
Com medida e peso diferentes
Com questões como estas, pertinentes,
Alertamos você, meu cidadão!

O escárnio e cinismo do opressor
Um idiota das redes sociais
Que espalha o boato e muito mais
Do seu ódio transborda tanto horror
Da exclusão é um grande defensor
Afinal, ele tem o seu espaço
Sem saber do que fala, cai no laço
Das mentiras que o outro lhe contou
E assim, mais um dia se passou
Para o povo, que vive este embaraço

Para a mãe, que sem filho segue em frente
Para o filho, sem pai, sem esperança
Para a morte do velho e da criança
Para a luta e justiça desta gente
Marielle estará sempre presente
Pra lembrar que é preciso muita luta
Se quisermos mudar esta conduta
Garantindo direito e igualdade
Solte o grito bem alto e com vontade
Só assim este mundo nos escuta

*Samuel de Monteiro_1970-_Marielle, na luta e presente!_2020