O 10 dos 14

Wilberth Salgueiro fez do soneto seu campo de jogo. Aí vai tocando e lançando cada palavra, armando as maiores jogadas. Porque se a forma é fixa, seu discurso é movente, cheio de polifonias, de lances dramáticos, sem medo de ruídos e interferências de outros gêneros discursivos, não raro desprestigiados pelos modelos clássicos.

Seus sonetos prescindem dos esquemas de rimas convencionais, escolhem as rimas assonantes e mesmo espalhadas. Suas rimas ou dobres são como as estampas do tecido poético. Os ataques sonoros não são previsíveis só pela ponta direita da página, mas são costurados por todo o corpo do poema.

Aqui, desditoso leitor, é preciso ter o futebol canarinho, das curvas que entortam as retas adversárias, como ideal de beleza. E o poeta deixou isso claro em seu livro anterior: O jogo, Micha e outros sonetos (2019). O que vale é sempre atacar, daí a constância do heroico como um metrônomo do texto, da ironia sempre afiada, às vezes chegando à facada satírica. Daí as palavras que podem ser quebradas ao meio, feito zagueiros de barro, como se o final do heroico fosse, de fato, a própria linha lateral do campo de futebol.

Ou seja, se o desafio da forma fixa é experimentar os dotes do maluco dentro de camisa de força, Wilberth se debate à vontade aí, testando a elasticidade da malha que aperta a loucura, vencendo o garrote com notável inventividade. Com Sonetos (2020), Wilberth Salgueiro se consolida, sem dúvida, como um craque do gênero nesses dias que escorrem.

(Orelha para Sonetos, [2021], de Wilberth Salgueiro.)

Por Pedro Marques
28 dez. 2021