99º Poema da Semana | 11fev2014

Casamento

As casas estando em silêncio
talvez pudesse haver um segredo
que se passasse entre os dedos,
fluidos vindos de tuas mãos fortes,
de teu olhar que andou rios,
o fundo do meu leito.

Eu não saberia encontrar-te
não fossem as tantas horas esperadas.
Compreender que nos compreendemos
é um jogo a mais de nos perdermos.

As almas estando amigas
já não podemos nos separar;
mesmo sabendo as horas,
os pássaros erram de cantar a madrugada.

Era teu riso, meu gozo,
teu medo, engodo.
Foi no dia em que nos perdemos.
Pinheiros existiam sem estarmos lá.

Manga-rosa, cachoeira,
morros escondendo ventres,
tudo pedra de nosso silêncio:
aqui, prédios e cinemas,
cafés amargos que não convencem.

Ah! Os corpos e as estrelas
têm a mesma distância e atração:
tu roubaste de mim meu caminho de fugir.

*Luzimar Goulart Gouvêa_1961-_A Poesia Usina_2013