6º poema da semana | 21mar2012

A mulher fatal

A mulher fatal já está presente
No jeito que a menina tem de ajeitar os cabelos.
Gesto delicado e preciso, leva a mecha do rosto
Para trás da orelha num piscar de olhos.
E o faz com tal leveza e decisão
– Mascando seu chicle de bola como se nada,
Que todo o mundo repara – os adultos
Com certo rubor. Afinal, poderia ser minha filha
– É o que pensam, não dizem.
Em dois anos, no máximo,
Guerras serão feitas em seu nome
Exércitos cairão aos seus pés
Haverá incêndios e ranger de dentes.
Mas ela finge dar de ombros
– E que ombros!
Enquanto deita o olhar indiferente
Pela janela do ônibus. A indiferença própria
Da mulher fatal aos quinze anos.

*Bruno Ribeiro, 1976-_Antologia da Noite em Claro_2009