IV – Os canários
Os canários mortos
voando na sala,
através do tempo,
das coisas, de mim.
Há pouco (vinte anos)
jaziam no fundo
da gaiola: cochos
vazios de água e alpiste.
Mas como lembrar
dessa sede e fome
ao som e ao vento
de festa e viagem?
Nada a fazer,
no escuro retorno,
a não ser cobri-los,
no quintal, de terra.
Mas eles ressurgem,
brotam como milho,
saltam das espigas
e bebem em meus olhos
e comem em meu peito,
enfim saciados:
nada falta no
festim do remorso.
*Ruy Espinheira Filho_1942-_As Sombras Luminosas_1981