268º Poema da Semana | 26abr2021

A mão que cai

Porque nada pode o pai, mesmo prosa,
quando um trem atravessa suas histórias
e da frase rasura o horizonte
e baralha as linhas do sobrenome.
Tanto que, quem o pai quem o menino,
por porte ou idade já não decido,
ambos à procura de alguma escora
para este mundo que o trem apostrofa.

O pai, decerto, a máquina não espanta,
mas o quanto dele o menino arreda,
como súbito se alongasse em andas
ou fosse a distância que do trem medra.
Mas é apenas a esquerda o menino
que cai – e deixa órfã a destra do pai,
de modo que o próprio não sabe mais
onde nem como amparar o destino.

*Fernando Fábio Fiorese Furtado_1963-_Um dia, o trem_2008