25º poema da semana | 8ago2012

A Musa Venal
ou o pato da dúvida com lábios de vermute
roerá tua carne lúdica

já vai o nono mês já vai mercúrio cumprir sua rota
e minha bela dorme grávida no sono gravita
mais inclinada ao sonho que a vida
roubo-lhe o beijo o sopro o sono
estou na sua casa e nona
na clave de sol onde entoo os cantos
morenos da paixão estou na sua sala
exposto à preguiça aos gnomos do meio-dia
nu em torno do desejo adormecendo ossos
estou na sua escala a da dor onde terço este poema
gravitando sonhos mortos germinados pela chuva

este é o mês onde pastam abutres
é preciso ter cuidado
alguma coisa chora perto do sangue
quando não podemos dizer escrever teu nome: VIDA
estou atado à noite e a seu punhal
aqui há dentes de pombos pelas trevas
aqui há répteis cegos embriagados pelas tripas da eternidade
e onde marinhar meu corpo sapatear meus dedos líricos
serpentear meu coração na luta com os uppercuts do desejo
NESTA ARTE QUEM SE PERDE GANHA

10/9/79

*Luiz Carlos Lima_1945-_Anatomia da Melancolia_1982