23º poema da semana | 24jul2012

Espelho

Imune ou solidário,
não cerro meu poema
com persianas
e horários.

O homem se reconhece
mesmo sem identidade.
Também se conhece o jugo
apesar de seu disfarce,
as idades, os escudos,
as armaduras de sangue.

O homem se reconhece
na escuridão, sem assunto:
pode ser encontro breve
quando as estrelas avultam,
pode ser para o soluço,
pode ser para um assunto
de pistolas e defuntos.

Sobretudo nos tropeços,
o homem se reconhece.

* Carlos Nejar_1939-_O Poço do Calabouço_1974