231º Poema da Semana | 20jan2020

 

Obscena. Praga e alguns dias de solidão me
deixaram sonhando com beijos luxuosos e
carícias. Sonhos perigosos. As coxas nuas do
menino na porta ao lado. Certo constrangimento
pela manhã diante de um desconhecido. Se ele
soubesse as mãos que sonhei. Um dia passou
quase inteiro em silêncio. Palavras trocadas
com estranhos, ‘uma cerveja, por favor’,
‘a conta’, ‘onde é o banheiro?’. Caminhando
por esta cidade como se ela não fosse de
verdade de tão bela e diferente. A língua tcheca
aumenta a irrealidade das coisas. Pernas
cansadas, encontro o que queria. Poucas fotos,
pois tudo é cartão-postal. Quero o músculo, o
cheiro, o inteiro. Tudo em que sonho avesso.
O silêncio me faz pornográfica.

*Beatriz Bastos_1979-_Da ilha_2009