22º poema da semana | 18jul2012

Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) –
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
__dependimentos demais
e tarefas muitas –
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
__o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas –
passaram essa tarefa para os poetas.

* Manoel de Barros_1916-2014_Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave_1991