217º Poema da Semana | 11jun2019

Os meninos de Oliveira

(…) Quando o homem chegou ao hospital, sua expressão era endurecida. A de Roberto, ao contrário, se iluminou. Com nove anos, ele correu para abraçar o pai, que não via há quase um ano. A emoção do encontro fez o menino ter uma pequena incontinência urinária. Quando chegou perto do pai, algumas gotas de xixi molharam a calça que estava vestindo, a melhor roupa que as funcionárias encontraram. O goiano até tentou esconder o desconforto diante daquela criança desajeitada, mas não conseguiu. Constrangido com o aspecto do filho, o pai disse que sairia para buscar almoço. Deixou a comida lá e nunca mais apareceu. A indiferença paterna atingiu em cheio o coração do menino gordinho e sensível. Deixado para morrer na Colônia, ele foi definhando. Não sucumbiu de fome, nem de frio, como os outros, mas de tristeza. (…)

*Daniela Arbex_1973-_Holocausto brasileiro_2013