167º Poema da Semana | 12abr2016

Ex (1)

Jamais esquecerei as maneiras
de minha ex-namorada
remava rio acima com a leveza de quem
descia a favor da correnteza
seu sorriso confundia a direção dos cachorros
que viajavam com as cabeças para o abismo
seu corpo jamais soube distinguir entre
a primavera e o outono

quando penso na futuro me transformo
na passado de minha ex-namorada

 

Ex (2)

Tenho ciúme do filho que habitará o ventre
de minha ex-namorada
que chupará seus seios e quase sempre pernoitará
enquanto uma clarineta inconsolável distribui
minhas vísceras como gomos ao luar

ainda hei de ser irmão
do filho prodígio de minha ex-namorada

 

Ex (3)

A minha ex-namorada
inundou minha vida de coisas belas demais
evitava que eu tivesse qualquer aborrecimento
impedia que eu saísse no sereno
me conduzia pela mão ao atravessar a rua
velava enternecida pelo meu futuro

a minha ex-namorada usurpou o lugar
onde floria, exuberante, a esposa atual
de meu pai onipresente.

* Antônio Carlos de Brito (Cacaso)_1944-1987_Beijo na boca_1975