135º Poema da Semana | 24mar2015

O Espírito da Letra

“Ao pé da letra agora, em minha vida
há a morte e uma mulher… E a letra dela,
a primeira, me busca e me martela
ouvido adentro a mesma despedida

outra vez e outra vez, sempre espremida
entre as vogais do amor… Mas como vê-la
sem exumar uma vez mais a estrela
que há anos-luz se esbate sem saída,

sem prazo de morrer na luz que treme?!
O mostro que eu matei deixou-me a marca
suas pernas abertas ante a Parca

aparecem-me em tudo: é a letra M,
a da Medusa que eu amei, a barca
sem amarras, sem remos e sem leme…”

*Bruno Tolentino_1940-2007_A balada do cárcere_1996