110º Poema da Semana | 20mai2014

Carrancas do Ribeirão

I

São pedras são desnavios
que choram na eternidade.
Mil marinheiros chegaram
beberam a água da fonte
e voltaram.
As caravelas partiram,
deixando o choro incessante,
o gosto de claridades,
de soluços, de milagres,
no baloiço dos antares.

São vagidos escondidos
dos navegantes da morte
que a teus pés aportaram
para beber dessa água
nas horas dos oceanos
em artes de desenganos.
E hoje aqui velha fonte
vive o mistério total.

________Por que choras cantaria?
________Saudades de Portugal.

Carrancas do Ribeirão
nos teus olhos eternais
estão silêncios ausentes
que te marcaram os ouvidos.
São lembranças dos sem-nome
marinheiros que tocaram
os teus cabelos de pedra
e embarcados tragados
pela aventura dos mares
jamais a teus pés voltaram.

*José Sarney_1930-_Os maribondos de fogo_1979